Autores: Ernesto Helder Palma Araújo e Sérgio Schneider Guimarães
DISCUSSÃO
O Ascaris lumbricoides Lineu é encontrado em quase todos os países do globo. É conhecido popularmente por lombriga e causa a doença conhecida como ascaridíase.
O macho do A. lumbricoides mede cerca de 20-30 cm de comprimento e extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral. A fêmea por sua vez mede cerca de 30-40 cm, é mais grossa que o macho e apresenta extremidade posterior retilínea. Ambos apresentam cor leitosa, branco-marfim ou rósea.
O habitat natural desse helminto é o intestino delgado do homem, principalmente o jejuno e íleo.
A transmissão se faz através da ingestão de ovos infectantes junto com alimentos contaminados ou mesmo material subungueal.
Quando ingeridos pelo hospedeiro os ovos infectantes vão sofrer eclosão no intestino delgado, liberando larvas que atravessam a parede intestinal, alcançam a veia cava inferior e migram para os alvéolos pulmonares. Posteriormente sobem pela árvore brônquica e traquéia, chegam até a faringe e podem ser expelidas pela expectoração ou serem deglutidas, sendo novamente encontradas em estágio de adulto-jovem no intestino delgado onde iniciarão a postura de novos ovos.
As larvas em infecções pequenas geralmente não causam nenhuma alteração. Em infecções maciças podem causar lesões hepáticas e pulmonares. Os vermes adultos, dependendo da carga parasitária, podem causar graves alterações como a subnutrição (ação expoliadora), e obstrução intestinal.
O diagnóstico é clínico e laboratorial fazer a pesquisa de ovos nas fezes.
Tratamento: drogas alternativas são o mebendazol, piperazina e albendazol .
RELATO DE UM CASO
Paciente de 1 ano de idade, leucoderma, residente em área rural de Sete Lagoas (MG), vítima de desnutrição acentuada apresentou episódio súbito de vômitos aquosos, com grande quantidade de vermes adultos de A. lumbricoides no conteúdo do vômito. Não houve relato de eliminação nasal do verme durante os episódios de vômito. Ao exame oftalmológico apresentava hiperemia conjuntival universal no OD e excesso de secreção purulenta e viscosa no local com a parte anterior de um verme se exteriorizando pelo ponto lacrimal inferior direito.
Realizado breve sedação anestésica na criança e o verme foi retirado do canalículo lacrimal inferior por simples tração pausada, para evitar a ruptura do verme no interior do canal lacrimal do paciente. Rinoscopia anterior foi realizada previamente, não se identificando o verme na cavidade nasal.
Após a retirada do verme, as vias lacrimais foram copiosa mente irrigadas com solução salina 0,9% em associação com gentamicina (solução injetável – 40mg), o que se mostrou pérveo ao fluxo da solução irrigadora.
O verme analisado laboratorialmente foi identificado como a fêmea do Ascaris lumbricoides.
Feito acompanhamento oftalmológico ambulatorial do caso em questão com o uso de antibiótico tópico (gentamicina), com melhora total da hiperemia conjuntival, da epífora, e desaparecimento da secreção purulenta.
No caso descrito, a presença ectópica do Ascaris foi no ducto nasolacrimal, saco lacrimal e ducto lacrimal inferior do OD da criança. Já que a ascaridíase é uma doença de ampla distribuição em países subdesenvolvidos e já que as crianças nesses países constituem o grupo predominantemente acometido pela doença, é necessário que se passe a pensar na possibilidade do helminto intestinal como provável vetor de patógenos bacterianos ou mesmo causando obstrução direta das vias lacrimais em uma criança desnutrida, com exame parasitológico de fezes positivo para o Ascaris, que resida em regiões de alta prevalência da doença, mesmo que o parasita não se exteriorize pelo ponto lacrimal.
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Resumo pessoal: Este artigo descreve um caso incomum de obstrução de vias lacrimais por Ascaris lumbricoides em uma criança de 1 ano de idade e faz um breve relato de outros casos semelhantes na literatura, enfatizando a necessidade de se pensar em helmintíase como provável causa de obstrução lacrimal em crianças desnutridas que moram em áreas de alta prevalência de parasitose intestinal.
Logo este artigo é importante para que possamos tomar conhecimentos sobre o tema.
Procedência e dados para referência bibliográfica: Bvs, Google academico
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4. Neves, Davi Pereira. Ascaris lumbricoides. In Parasitologia Humana Neves, DP. Cap. 26 - 6° edição – Atheneu – Rio de Janeiro, 1986.
5. Motta JAC et al. Doenças Infecciosas da Infância e Adolescência. Cap. 89 – 2ª edição – MEDSI – VOL II – 2000.
........................ Jéssika Cavalcante Silva